Era um lugar muito escuro. E como era escuro aquele lugar.
Era como a realidade invertida de um antigo prédio comercial que visitei em
outros tempos. A versão fantasmagórica de todo o cenário retratada em cores
mortas. Um mundo alternativo erguido em meio à ferrugem, lodo e decomposição. Quando
estive ali, as trepadeiras eram verdes, eu lembro. Dois crocodilos moravam no átrio
externo, e duas onças também. Mas tudo estava diferente... Não havia qualquer
animal, ou trepadeira. A sombra da morte encobriu aquele lugar e fez dele sua
morada.
O antigo edifício sucumbia qual um gigante morfético, irreversivelmente tomado pela noite perniciosa. Ali dentro o coração da treva pulsava e irradiava pavor pelos corredores, que eram como o sistema venoso de um grande organismo maligno. A escuridão exalava seu hálito frio de brumas e miasmas, enevoando toda a atmosfera. Ao meu lado, dezenas de vultos humanos vagavam sem destino ou entendimento, esbarrando uns nos outros. Nada mais eram que figuras indistintas... Silhuetas irreconhecíveis na penumbra... Almas enfraquecidas, drenadas, prestes a expirar naquela imitação do Hades mitológico.
Eu caminhava entre espectros com uma infinda sensação de risco. O medo era o único combustível que mantinha acesa em mim a fagulha de minha existência. Noutra ocasião eu me encolheria em um canto com os olhos fechados, a espera de socorro ou de uma morte menos fatídica. Entretanto, meu corpo buscava a saída daquele lugar como um afogado procura pela superfície das águas que o cobrem... Como um enforcado busca fôlego urgente... Num espasmo involuntário de ímpeto. Num reflexo incontrolável de ante mover...
Meus seis sentidos alertavam cada célula do meu corpo para o perigo que ali habitava. E minha intuição estava certa!!! No claustrofóbico labirinto de corredores, havia uma terrível e mortal criatura. Ao buscar uma saída, deparei-me com ela. Assemelhava-se ao Monstro do Pântano, pois seu corpo parecia uma fusão imprecisa de lama e vegetação. Era bípede, e mesmo com sua postura curvada media quase três metros de altura. Apesar da inconsistência de sua forma física, era possível distinguir suas garras longas e pontiagudas, capazes de estraçalhar um tronco humano num só golpe. Embora não pudesse ver sua face, tinha certeza que sua mandíbula era igualmente fatal, pois seus grunhidos eram aterradores e ecoavam por todos os cantos. Seu passo era lento e arrastado, mas todos os caminhos levavam ao Monstro sentinela. Era como se fosse onipresente.
Que lugar amaldiçoado era aquele?! O que eu fiz para merecer tal destino?! Perguntava-me a todo o momento se havia morrido e ido direto para as dimensões infernais. Corri até a completa exaustão. Meus pulmões estavam prestes a explodir e minhas pernas falharam. Tombei de joelhos a hiperventilar. Quando me vi a beira de um ataque de pânico, um vulto sussurrou em meu ouvido como uma brisa evanescente: “Quando vir a criatura, invoque Vassala Sananda aos quatro cantos da Terra”. Não entendi o significado daquelas palavras, e elas engasgaram em minha boca desidratada. Mas bastou-me ver o Monstro para levantar-me com urgência e proferir o encantamento quatro vezes, uma para cada ponto cardeal. Funcionou. O ser assombroso se foi de imediato.
Levantei-me e segui meu caminho a invocar Vassala Sananda sempre que o Monstro aparecia. De início isso me trouxe imensurável alívio. No entanto, acabei por descobrir que dali não havia saída. E que a mim estava reservado o mesmo fim que aqueles espectros: vagar na obscuridade para todo o sempre, clamando pelo nome de um ser que nunca conheci face a face. Isso me amargurou. Mas com o tempo percebi que no antigo mundo ao qual um dia pertenci não era tão diferente. Eu já estava acostumada a caminhar entre monstros. E também a afastá-los com minhas orações.
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O louco disso tudo é que ouvi esse nome "Sananda" em um sonho, e ao pesquisar sobre ele descobri que era a denominação de um "novo cristo" extraterrestre que possui alguns seguidores ao redor do mundo. Acho que estão tentando me recrutar para a gênese da Nova Era kkkk...
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