quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Fantasma e o Vampiro - Capítulo I

Era uma vez, em um pequeno vilarejo, uma bela moça chamada Valentina. Ela era alva como a neve que cobria aquelas terras no inverno, mas as maçãs de seu rosto eram rosadas como o alvorecer. Suas feições exalavam etérea e virginal pureza. Os longos cabelos negros emolduravam-lhe a face como um véu, sem camuflar, porém, a silhueta perfeitamente esculpida pelo uso de espartilhos. A ela se destinavam os elogios das mais respeitáveis senhoras e as melhores propostas de casamento. Por ela, todos os jovens suspiravam e escreviam suas trovas. No entanto, o coração de Valentina batia exclusivamente por Klaus, por quem se apaixonara desde a infância e permanecia amando até os então 17 anos.  

Os pais de Valentina aprovavam aquela união a contragosto. O rapaz, embora pertencesse a uma linhagem próspera, vivia entre bardos e beberrões. Mas por amor de Valentina, ele prometeu abandonar aquele estilo de vida.  Propôs-lhe casamento assegurou-lhe que seria o bom marido que ela merecia. Todavia, antes do casório, pediu-lhe permissão para embarcar em mais uma aventura, a última antes de se entregar aos votos matrimoniais. Com o doloroso consentimento da moça, partiu para um festival de música e vinho em um reino próximo dali.

Valentina ficou apreensiva, pois as estradas eram cheias de salteadores, e os bosques repletos de armadilhas ocultas. Porém, os preparativos para a cerimônia davam a alegria e esperança que seu coração precisava. Mal cabia em si de tanta alegria e ansiedade.  A família encomendou os mais caros tecidos e contratou o mais renomado alfaiate para a confecção do vestido. O homem franzino garantiu, entre lágrimas de emoção, que Valentina seria a mais bela noiva já vista em todos os reinos. 
O bolo, por sua vez, demandaria do trabalho de todas as confeiteiras da região, uma vez que seria grande o suficiente para servir cada habitante do vilarejo. Além disso, foram encomendadas as mais exóticas e perfumadas flores para os arranjos.

Às vésperas do grande dia, Klaus enviou um mensageiro anunciando que chegaria em breve. Tudo para a festa já havia sido preparado e Valentina mal podia esperar para encontrar o amado diante do altar. Mas a felicidade da moça pouco durou. A trágica notícia veio num pé de vento. Um dos amigos de seu noivo adentrou na cidade, completamente ferido e ensanguentado, tendo fôlego apenas para dizer:

- Todos... estão... mm... mortos... to..dos... Klaus... diga a ela... mortos... – e engasgou-se com o próprio sangue.

E como as pessoas têm o hábito milenar de apressar-se para divulgar más novas, não demorou nada para que fossem até Valentina narrar o ocorrido, sem qualquer precaução ou eufemismo. Ela estava fazendo os últimos ajustes no vestido, quando um menino entrou no atelier, esbaforido, trazendo a triste notícia. Em uma súbita queda de pressão, a moça quase despencou do pequeno banquinho, não fossem as mãos do alfaiate. Conduziram-na até o corpo do rapaz, e contaram-lhe as últimas palavras. A moça entrou em desespero, gritou, esperneou e ameaçou correr para o bosque para resgatar o amado, negando-se em aceitar tal sorte. Em vão. Arrastaram-na de volta para sua casa e o médico da família aplicou-lhe toda sorte de calmantes, até que adormeceu.

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