Era uma vez, em um pequeno vilarejo, uma bela
moça chamada Valentina. Ela era alva como a neve que cobria aquelas terras no
inverno, mas as maçãs de seu rosto eram rosadas como o alvorecer. Suas feições exalavam
etérea e virginal pureza. Os longos cabelos negros emolduravam-lhe a face como um
véu, sem camuflar, porém, a silhueta perfeitamente esculpida pelo uso de espartilhos.
A ela se destinavam os elogios das mais respeitáveis senhoras e as melhores
propostas de casamento. Por ela, todos os jovens suspiravam e escreviam suas
trovas. No entanto, o coração de Valentina batia exclusivamente por Klaus, por quem
se apaixonara desde a infância e permanecia amando até os então 17 anos.
Os pais de Valentina aprovavam aquela união a contragosto. O rapaz, embora pertencesse a uma linhagem próspera, vivia entre bardos e beberrões. Mas por amor de Valentina, ele prometeu abandonar aquele estilo de vida. Propôs-lhe casamento assegurou-lhe que seria o bom marido que ela merecia. Todavia, antes do casório, pediu-lhe permissão para embarcar em mais uma aventura, a última antes de se entregar aos votos matrimoniais. Com o doloroso consentimento da moça, partiu para um festival de música e vinho em um reino próximo dali.
Valentina ficou apreensiva, pois as estradas eram cheias de salteadores, e os bosques repletos de armadilhas ocultas. Porém, os preparativos para a cerimônia davam a alegria e esperança que seu coração precisava. Mal cabia em si de tanta alegria e ansiedade. A família encomendou os mais caros tecidos e contratou o mais renomado alfaiate para a confecção do vestido. O homem franzino garantiu, entre lágrimas de emoção, que Valentina seria a mais bela noiva já vista em todos os reinos.
O bolo, por sua vez, demandaria do trabalho de todas as confeiteiras da região, uma vez que seria grande o suficiente para servir cada habitante do vilarejo. Além disso, foram encomendadas as mais exóticas e perfumadas flores para os arranjos.
Às vésperas do grande dia, Klaus enviou um mensageiro anunciando que chegaria em breve. Tudo para a festa já havia sido preparado e Valentina mal podia esperar para encontrar o amado diante do altar. Mas a felicidade da moça pouco durou. A trágica notícia veio num pé de vento. Um dos amigos de seu noivo adentrou na cidade, completamente ferido e ensanguentado, tendo fôlego apenas para dizer:
- Todos... estão... mm... mortos... to..dos... Klaus... diga a ela... mortos... – e engasgou-se com o próprio sangue.
E como as pessoas têm o hábito milenar de apressar-se
para divulgar más novas, não demorou nada para que fossem até Valentina narrar o ocorrido,
sem qualquer precaução ou eufemismo. Ela estava fazendo os últimos ajustes no
vestido, quando um menino entrou no atelier, esbaforido, trazendo a triste notícia.
Em uma súbita queda de pressão, a moça quase despencou do pequeno banquinho,
não fossem as mãos do alfaiate. Conduziram-na até o corpo do rapaz, e
contaram-lhe as últimas palavras. A moça entrou em desespero, gritou, esperneou
e ameaçou correr para o bosque para resgatar o amado, negando-se em aceitar tal sorte. Em vão. Arrastaram-na de volta para sua casa e o médico da família aplicou-lhe
toda sorte de calmantes, até que adormeceu.
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